sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Semana da Leitura - As minhas leituras


Antes que a semana comece, descobri que algumas personalidades bem nossas conhecidas já se tinham confessado on-line acerca dos seus gostos juvenis de leitura. Porque não fazermos todos o mesmo? A primeira vai ser a nossa amiga Alice Vieira:
Foram maus livros
que me criaram o gosto pela leitura
Alice Vieira Tudo de Condessa de Ségur O Rapto, Stevenson Sem Família, Hector Mallot Romance de Isabel, Berthe Bernage As Aventuras de Tibicuera, Erico Veríssimo Clarissa, Erico Veríssimo A Morgadinha dos Canaviais, Júlio Diniz
Vivi toda a minha infância rodeada de livros. Eram livros maus, eram livros bons – era o que havia. E felizmente que havia livros, porque não havia mais nada...Eram os livros que as minhas tias liam, romances de amor, grandes dramas que faziam chorar muito mas acabavam sempre em casamento. Não seriam, evidentemente, para a minha idade, mas fizeram-me muito bem. Chorei desalmadamente com as desventuras do “John Chofer Russo” e era particularmente fã dos romances de uma dupla francesa chamada, se bem me lembro, Henri Ardel e Madame Delli (não afianço que se escrevesse assim, acho até que tinha um “h” algures, mas não sei onde). Foram esses maus livros que me criaram o gosto pela leitura. Que me deram vontade de ler sempre mais. Quando, finalmente, chegaram os livros a sério – eu já estava conquistada. E pude então ler toda a Condessa de Ségur, o Hector Mallot (sobretudo os dois volumes do Sem Família; o Em Família não me comovia tanto, eu era mais tragédias...), o Stevenson (sobretudo O Rapto), a Berthe Bernage (sobretudo com o Romance de Isabel) e – a grande paixão da minha vida – Erico Veríssimo.
A adoração por Veríssimo estendeu-se pela infância e pela adolescência. Se na infância tinham sido sobretudo As Aventuras de Tibicuera a povoar-me os sonhos (ainda hoje a primeira frase do livro tem cadências mágicas para os meus ouvidos: “nasci na taba de uma tribo tupinambá”...), na adolescência foi a descoberta de Clarissa e do seu universo luminoso. Com Clarissa tive a verdadeira revelação de como era possível escrever um romance onde, praticamente, nada acontecia. Um romance onde se dava primazia às emoções, aos cheiros, à música, às recordações. Clarissa foi a heroína da minha adolescência. A que se seguiu Madalena, de A Morgadinha dos Canaviais, e todo o universo feminino de Júlio Diniz (excluindo as “Pupilas”, a que nunca achei muita graça) De repente, quando dei por mim, já a adolescência tinha passado: mas a paixão por Veríssimo e Júlio Diniz nunca mais passou. Tenho o retrato de ambos na minha mesa de trabalho.

Alice Vieira nasceu em Lisboa, em 1943. Ingressou no jornalismo, em 1969, no Diário Popular, passando, em 1975, para o Diário de Notícias; presentemente, trabalha para o Jornal de Notícias e para a revista Activa. Publicou, pela primeira vez, em 1964, um livro de poemas, mas será em 1979 que ganha o Prémio de Literatura Infantil “Ano Internacional da Criança”, promovido pela Editorial Caminho, com a obra Rosa, minha Irmã Rosa, iniciando uma carreira auspiciosa no difícil território que é a literatura infantil e juvenil. A sua criação literária mantém-se regular, ora explorando temáticas muito próximas das vivências dos jovens, ora fazendo incursões na literatura oral do nosso património tradicional. Parte da obra está traduzida em várias línguas e editada em diversos países; numerosos livros seus estão incluídos em listas de obras literárias de qualidade recomendadas pela célebre International Youth Library de Munique.

Sem comentários: