Hoje, dia 20 de março, das 9 às 11 horas, a Biblioteca Escolar em colaboração com a Associação Cultra Abriléagora, realizou uma Palestra com o investigador Gil Gonçalves alusiva à Revolução de 25 de Abril de 1974.
Cerca de 80 alunos, das turmas 10.º B, 10.º E, 10.º I, 12.º E, 104 e 114, acompanhados pelos seus professores, Paulo Cabeiro, Constança Saias, Anabela Ferreira, Oliva Valente, Lurdes Moedas, Óscar Teixeira e Ângela Fernandes participaram neste evento, em que o convidado abordou o tema na perspetiva da contribuição estudantil e procurou que os estudantes colaborassem no evento.
Bionota de apresentação do convidado
Licenciado em História pela Nova Faculdade de Ciências e Humanas e mestre em História Contemporânea, pela mesma instituição, com a dissertação "Eanismo, Otelismo e a questão da "normalização" democrática (1975-1976)". Este é investigador no Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa/ Laboratório Associado para a Investigação e Inovação em Património, Artes, Sustentabilidade e Território e doutorado em Estudos sobre a Globalização.
A Revolução de 25 de Abril de 1974
Porque ocorreu?
Como mudou a sociedade portuguesa?
Partindo da definição de Revolução, o investigador com a colaboração das intervenções dos alunos, concluiu que no início se definiu, inicialmente, por um golpe militar, mas que a revolução surgiu, depois, como consequência desse golpe.
A ideia consensual de revolução na sala foi de transformar, para melhor, uma sociedade. A revolução ficou a dever-se a um conjunto de razões com antecedentes na Luta pela Liberdade que se acelera, a partir de 1958, com as eleições presidenciais quando a população constata, de forma óbvia, que o processo havia sido fraudulento. Nestas eleições o General, em exercício, Humberto Delgado apresenta-se contra o candidato do governo Américo Tomás, pela União Nacional, e alega, em entrevista, que se ganhasse as eleições demitiria Salazar. Pela primeira vez um candidato não desiste do propósito e enfrenta a máquina do governo até ao fim do processo eleitoral. A partir daí verifica-se, até 1974, o desgaste do regime.
Os dois grandes pilares do regime, os militares e vários setores da igreja, contestam o governo.
Em 1961 dá-se o assalto ao Santa Maria e o paquete vê, simbolicamente, o seu nome transformado em Santa Liberdade.
Surge a Abrilada, ato político que resultou em golpe frustrado dos militares, e inicia-se a Guerra Colonial, em Angola.
Acontece a Operação Vagô de grande difusão internacional, abafada em Portugal pelo aparelho da Censura.
Em 1971 Portugal perde os territórios portugueses na Índia (Goa, Damão e Diu) e o Império começa a desfazer-se. No continente, as greves nas fábricas, por melhores condições de vida, são reprimidas.
O papel dos estudantes no 25 de Abril
No fim da monarquia, a taxa de analfabetismo em Portugal era enorme. (81% das mulheres e 78% dos homens não sabia ler nem escrever). Se compararmos com os números nos demais países da Europa, pode-se dizer que, no final do século XIX, já não havia analfabetismo.
Salazar apostou no ensino primário e a escolaridade obrigatória ia até ao 4.º ano. A escola estava dividida por género. Isto é: haviam escolas primárias e liceus para rapazes e outros para raparigas)
Dados daquela época apontam para cerca de 4000 alunos a estudar nas Universidades, enquanto hoje o número de estudantes no ensino superior aponta para 400 000.
Na altura só os filhos das elites é que frequentavam o ensino universitário que se traduzia por um espaço de reprodução das elites e não de ampliação dos conhecimentos e de liberdade.
Partindo da frase de Jorge Sampaio: "O 25 de Abril começou a 24 de março de 1962"
A 24 de março celebra-se o Dia do Estudante, mas a celebração foi proibida pelo Estado Novo desde as eleições presidenciais, uma vez que os jovens eram muito contestatários e o governo temia que aquele dia se tornasse uma oportunidade de subversão. Ressalve-se que surgiram, nas Faculdades da época (Porto, Lisboa e Coimbra), as Associações de Estudantes com a preocupação de dar aos colegas o acesso à cultura e a textos proibidos em Portugal, que se tornam oposição ao governo. E, apesar do dia não poder ser comemorado, os estudantes concentraram-se e envolveram a população próxima da universidade de Lisboa. Todavia, o resto da população desconhece o que se passa. Consequência, a polícia expulsa os estudantes desta concentração estudantil que tinha já, em 1962, um vinco politico muito pronunciado.
Estas Associações de Estudantes tinham jornais estudantis que divulgavam estas notícias que, devido à censura, não chegavam aos jornais diários nacionais. A imprensa estudantil não tinha tiragem periódica e escapava às malhas da censura. A Cultura passou a ser uma arma. As Associações Estudantis passavam filmes de sociedades diferentes, de regimes democráticos, que davam acesso a um conjunto de ideias que não passavam no sistema de ensino vigente.
As universidades sofrem uma perda da autonomia
Marcelo Caetano, enquanto da Universidade de Lisboa, não concorda com a intervenção policial dentro daquele espaço e coloca-se do lado dos estudantes.
Os estudantes
- pretendem a democratização
- são contra a violência policial
- desejam a autonomia das associações de estudantes
Como as Associações Estudantis são focos de oposição ao regime, o Estado Novo fecha-as ou substitui os estudantes que as lideram por pessoas não contestatárias.
Como consequência da ausência do direito de expressão e de reunião, os alunos fazem o Luto Académico que se traduz na greve às aulas e, durante o período de greve, reúnem-se para debater a situação política. Como forma mais radical de protesto, 82 estudantes fazem greve de fome na cantina da universidade. Resultado a polícia expulsa à força os alunos. Os que foram presos continuaram este tipo de greve na prisão.
As Cheias de 1967
As cheias de 1967 foram o primeiro registo das elites estudantis com a sociedade real. Destas cheias resultou muita destruição, mas, também, foi revelada a miséria que o estado potencializava. Como resultado, a censura teve de entrar em ação e as notícias das cheias foram suspensas.
Em 1969, a Crise Académica
Esta crise refletiu os 10 anos da Guerra Colonial, para a qual os jovens foram chamados, e, simultaneamente, a consciência da realidade nacional demonstrada pelas cheias de 1967.
Em Portugal fizeram-se grandes manifestações estudantis de rua, em Coimbra, e greves aos exames. A GNR e os militares ocuparam a cidade e os estudantes envolvidos foram, de imediato, recrutados para combater na Guerra Colonial.
Em França, na mesma altura, há um grande movimento estudantil.
Final da Taça de Portugal
Na final da taça de Portugal a Académica enfrenta o Benfica. Os estudantes pensam que iriam ter visibilidade na televisão e na rádio e que no final do jogo fariam um grande comício. Estava prevista a intervenção do Dr. Alberto Martins, então presidente da Associação de Estudantes de Coimbra, se a equipa estudantil vencesse. A transmissão do jogo foi proibida e a tribuna presidencial esteve vazia durante o jogo. O Benfica venceu na segunda parte com um golo do Eusébio. Ficou para a história a gravação do jogo pela televisão portuguesa, que pode ser requisitada ao Arquivo da RTP.
Casa do Estudante do Império
A casa do estudante do império, criada pela Ditadura, vai contribuir para desfazer o próprio regime quando os estudantes percebem que têm afinidades e ideias comuns anticolonialistas.
Os estudantes denunciam o racismo e o imperialismo e colocam-se do lado do Vietname na guerra dos Estados Unidos, como forma encapuçada de fazer a contestação à Guerra Colonial.
A Luta nos Liceus
As proibições nos Liceus:
- usar fatos e saias curtas
- usar maquilhagem
- andar sem bata nas escolas femininas
- usar camisas de colarinho aberto e mangas arregaçadas
- contactar rapazes nas imediações das escolas femininas
Não havia telemóveis nesse tempo, mas a contestação fazia-se através dos jornais estudantis.
Haviam 33 jornais de escola. Os redatores tinham entre os 14 e os 17 anos. Os jovens faziam todo o processo de elaboração dos jornais e a própria distribuição. As tiragens eram de 500 a 1000 exemplares. Apesar de, os diretores, os professores os funcionários das escolas e a policia do estado vigiarem a distribuição. Vários estudantes foram suspensos e detidos.
O regime Marcelista acabou por seguir a linha de Salazar.
Um estudante morreu e virou mártir nestes anos e no pós 25 de Abril.
Pós 25 de Abril
Os estudantes asseguraram Campanhas de Alfabetização, de Educação Sanitária, de Educação Sexual e de Controlo da Natalidade da População (Não havia Serviço Nacional de Saúde) nas zonas interiores do país. Simultaneamente, levaram a Cultura à População que nunca tina visto cinema ou teatro.
A juventude portuguesa partilhou um grande sentimento de generosidade com os adultos e as pessoas da terceira idade.
O Algarve e o Dia da Liberdade
O Município de Loulé salvou, de imediato, a Junta de Salvação Nacional.
Em Vila Real de Santo António as medidas práticas, mais urgentes, tomadas após a revolução foram as que se prenderam com a habitação, os esgotos e os sanitários públicos (não havia nas casas), a pavimentação das estradas e os transportes públicos.
Nas imediações da ESVRSA existe a Rua Catarina Eufémia, em homenagem à camponesa morta no Alentejo nos anos 40, símbolo de resistência, adoptada como mártir do regime.
Terminada a palestra restou o agradecimento à Associação Cultra Abriléagora e ao Investigador Gil Gonçalves. Este revelou ter gostado do convite e da forma como foi recebido. Ficou a vontade de voltar. Quem sabe? Talvez, um dia.
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