segunda-feira, janeiro 26, 2009

VÁ PASSEAR - CÁ DENTRO


Realizam-se já em Fevereiro, 11 a 14, as 10ª Correntes d'Escritas, na Póvoa de Varzim. Este ano contam com a participação de 120 escritores e escritoras de diversos países (Angola, Argentina, Brasil, Uruguai, Cuba, S. Tomé e Príncipe, entre outros, para além de Portugal, claro). A organização faz sentir cada participante como se estivesse em casa, seja escritor/a ou assistente, o ambiente é muito acolhedor e os livros são as estrelas.

VÁ ÀS COMPRAS


Se foi um dos muitos leitores que não conseguiu comprar o último livro de Herberto Hélder, A Faca Não Corta o Fogo, não desanime, está para breve a saída da Obra Completa, Ofício Cantante, pela Assírio e Alvim, como sempre. Mas, o melhor mesmo é ir reservar já, pois se desaparecer ao mesmo ritmo do anterior e forem tão poucos os exemplares ficamos é muito pouco "cantantes."

quinta-feira, janeiro 22, 2009

"G. P. L." na BIBLIOTECA

Visita à Biblioteca pelos alunos do 8º A, com a professora Maria da Luz, para escolher o primeiro livro deste período para a Biblioteca de Turma. Esta actividade faz parte da disciplina de Língua Portuguesa e através de um Contrato de Leitura os alunos comprometem-se a ler diferentes livros ao longo do ano lectivo.

G. P. L. - Guia para a Leitura

segunda-feira, janeiro 19, 2009

The Raven - O Corvo (tradução de Fernando Pessoa)


FERNANDO PESSOA
(1888-1935)
O CORVO
      Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
      Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
      E já quase adormecia, ouvi o que parecia
      O som de alguém que batia levemente a meus umbrais
      «Uma visita», eu me disse, «está batendo a meus umbrais.
      É só isso e nada mais.»

      Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
      E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
      Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
      P'ra esquecer (em vão) a amada, hoje entre hostes celestiais —
      Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
      Mas sem nome aqui jamais!

      Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
      Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
      Mas, a mim mesmo infundindo força, eu ia repetindo,
      «É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
      Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
      É só isso e nada mais».

      E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
      «Senhor», eu disse, «ou senhora, decerto me desculpais;
      Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
      Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
      Que mal ouvi...» E abri largos, franquendo-os, meus umbrais.
      Noite, noite e nada mais.

      A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
      Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
      Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
      E a única palavra dita foi um nome cheio de ais —
      Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
      Isto só e nada mais.

      Para dentro estão volvendo, toda a alma em mim ardendo,
      Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
      «Por certo», disse eu, «aquela bulha é na minha janela.
      Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais.»
      Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
      «É o vento, e nada mais.»

      Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
      Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
      Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
      Mas com ar solene e lento pousou sobre meus umbrais,
      Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais.
      Foi, pousou, e nada mais.

      E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
      Com o solene decoro de seus ares rituais.
      «Tens o aspecto tosquiado», disse eu, «mas de nobre e ousado,
      Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
      Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais.»
      Disse-me o corvo, «Nunca mais».

      Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
      Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
      Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
      Que uma ave tenha tido pousada nos seus umbrais,
      Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
      Com o nome «Nunca mais».

      Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
      Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
      Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
      Perdido, murmurei lento, «Amigo, sonhos — mortais
      Todos — todos lá se foram. Amanhã também te vais».
      Disse o corvo, «Nunca mais».

      A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
      «Por certo», disse eu, «são estas vozes usuais.
      Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
      Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
      E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
      Era este «Nunca mais».

      Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
      Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
      E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
      Que qu'ria esta ave agoureira dos maus tempos ancestrais,
      Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
      Com aquele «Nunca mais».

      Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
      À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
      Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
      No veludo onde a luz punha vagas sombras desiguais,
      Naquele veludo onde ela, entre as sombras desiguais,
      Reclinar-se-á nunca mais!

      Fez-me então o ar mais denso, como cheio dum incenso
      Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
      «Maldito!», a mim disse, «deu-te Deus, por anjos concedeu-te
      O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
      O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!»
      Disse o corvo, «Nunca mais».

      «Profeta», disse eu, «profeta — ou demónio ou ave preta!
      Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais,
      Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
      Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
      Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!»
      Disse o corvo, «Nunca mais».

      «Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!, eu disse. «Parte!
      Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
      Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
      Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!»
      Disse o corvo, «Nunca mais».

      E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
      No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
      Seu olhar tem a medonha dor de um demónio que sonha,
      E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão mais e mais,
      E a minh'alma dessa sombra, que no chão há mais e mais,
      Libertar-se-á... nunca mais!


FERNANDO PESSOA
(1888-1935)

Versão original em Inglês de “O Corvo” por Edgar Allan Poe



Edgar Allan Poe


Autor de «The Raven» nasceu há 200 anos.
Diz o Diário de Notícias que, todos os anos, desde 1949, alguém conhecido como «The Poe Toaster» visita a campa deste famoso escritor em Baltimore, faz um brinde com brandy e depõe nela 3 rosas.
Edgar Allan Poe nasceu no dia 19 de Janeiro de 1809 e morreu com apenas 40 anos. autor de histórias misteriosas e fantásticos poemas foi admirado por Fernando Pessoa que o considerava um génio. O autor português traduziu os seus poemas Annabel Lee e O Corvo.


Podem procurar os contos de Poe na nossa biblioteca.

quarta-feira, janeiro 14, 2009

NOVIDADES


Agumas "novidades" que chegaram à nossa Biblioteca. Alguns livros são recém editados, outros têm capas novas, bem bonitas, e são intemporais. Uns pertencentes ao Plano Nacional de leitura, outros aos programas e outros ainda simplesmente para ler porque sim.

JÁ NAS BANCAS


segunda-feira, janeiro 12, 2009

Luthgarda Guimarães de Caires

O texto abaixo é da autoria de Maria Luisa V. Paiva Boléo

Luthgarda Guimarães de Caires







Vila Real de Santo António orgulha-se de na sua cidade ter nascido, em Novembro de 1873, aquela que além de escritora e filantropa, teve, um dia, a ideia de proporcionar às crianças doentes um Natal com agasalhos, prendas e brinquedos, cuja dimensão viria a atingir a imensa popularidade do actual Natal dos Hospitais. Lutgarda Guimarães (de Caires pelo casamento), filha de Maria Teresa de Barros Guimarães e de José Rodrigues Guimarães, perdeu a mãe ainda criança. Mas o pai rodeou-a, a ela e ao irmão, de um ambiente de grande ternura e muita arte. (…) Desde criança, Lutgarda improvisava, junto com o irmão e os primos, teatrinhos com peças consagradas que adaptavam e representavam para a família. Ainda jovem, Lutgarda passa viver em Lisboa onde conhece e vem a casar com o advogado madeirense João de Caires, homem culto, escritor e fundador da Sociedade de Propaganda de Portugal, que reunia em casa amigos e onde havia regularmente animados serões literários. Era o ambiente propício para que Lutgarda de Caires desse livre curso à sua criatividade. Porém, sofreu logo no início do casamento a perda de uma filha (e provavelmente ainda de outro filho), facto que a marcou profundamente e que se revela na sua poesia, toda ela triste. A partir daí, decide passar a visitar as crianças doentes do Hospital da Estefânia levando-lhes roupas, brinquedos e rebuçados. (…). Durante alguns anos o casal Caires viveu em Óbidos e Alcobaça (…). Nesta cidade do célebre Mosteiro nasceria, em 1895, o filho Álvaro (Guimarães de Caires), que viria a ser, além de médico, professor na Universidade de Sevilha, escritor e investigador. (…). A partir de 1905, começa a colaborar em jornais com artigos de índole social. A sua primeira obra. 'Glicínias" foi editada em 1910. Seguiram-se "Papoilas (1912) e "A Dança do Destino contos e narrativas" (1913). Já regressada a Lisboa, continua a visitar regularmente as crianças do Hospital da Estefânia. Fazia-lhes casaquinhos de malha e com o sucesso dos seus livros mais pessoas começaram a conhecê-la e a interessar-se pela sua cruzada em prol das crianças doentes e sozinhas. Os lucros que obtinha da venda dos seus livros revertiam para proporcionar às crianças um dia de Natal especial. Em 1911, o Ministro da Justiça Diogo Leote propôs à escritora que fizesse um estudo da situação dos presos, principalmente das mulheres. (…). Lutgarda denunciou as péssimas condições em que viviam os prisioneiros e os seus artigos conseguem que seja abolida a máscara nas prisões (para presos com determinadas penas) e a obrigatoriedade do silêncio, castigo medieval que infelizmente vigorou até ao 25 de Abril de 1974. Conseguiu ainda que as mulheres tivessem melhores condições higiénicas nos cárceres. Mas a sua prioridade ia para as crianças e para a escrita. A sua obra é principalmente de poesia, que dedica a figuras famosas da época, algumas que perduraram no tempo, como Guerra Junqueiro, Branca de Gonta Colaço, Virgínia Quaresma, Maria Amália Vaz de Carvalho e Laura Chaves, entre outros. Em 1923, Lutgarda de Caires, ganhou o 1° prémio nos Jogos Florais Hispano-Portugueses de Ceuta, com o soneto Florinha da Rua. A autora, ausente em França, fez-se representar pelo irmão João de Deus Guimarães (…).
Durante dez anos, Lutgarda de Caires foi a impulsionadora do Natal das Crianças dos Hospitais, que hoje apenas se chama Natal dos Hospitais e que foi alargado a todas as idades. É, como sabemos, uma festa que atingiu uma dimensão jamais esperada. Depois de se popularizar, passou a ser transmitida pela rádio e depois pela televisão. Muitas dezenas de artistas colaboram gratuitamente para alegrar os doentes nessa quadra que se quer de fraternidade. Lutgarda de Caires não foi uma feminista "avant la lettre', porque, ciente do analfabetismo feminino em Portugal, achava que reivindicar o voto para as mulheres era prematuro. Primeiro a instrução pela qual se bateu denodadamente e depois sim, o voto consciente. Porém, ela terá feito com os seus artigos, em jornais como "O Século", "Diário de Notícias', 'A Capital", "Brasil-Portugal", "Ecos da Avenida", "Correio da Manhã", mais pela igualdade de oportunidades para as mulheres do que muitas feministas filiadas em organizações. (…) Lutgarda de Caíres foi uma mulher de grande fibra, que denunciou com alguma indignação que mulheres cultas e com cursos superiores fossem excluídas de cargos públicos. Também se insurgiu contra a discriminação de que eram vítimas as mulheres por não poderem dispor dos seus bens, enquanto casadas. Foram muitas as suas acções em prol dos desfavorecidos, nomeadamente aquando do terramoto de Benavente, em 1909, quando imensas famílias ficaram sem nada. Deixou, além dos livros já mencionados, "Bandeira Portuguesa" (1910) defendendo a manutenção das cores azul e branca (polémica em que intervieram muitos nomes da cultura portuguesa); "Dança do Destino" (1911); "Pombas Feridas" (1914), "Sombras e Cinzas" (1916); o romance "Doutor Vampiro" (1921); "Violetas" (1922), "Cavalinho Branco" (1930) e "Palácio das Três Estrelas" (1930), entre outros. Em co-autoria com o arqueólogo e escritor, Manuel Vieira Natividade e Virgínia Vitorino escreveu a peça Inês. Lutgarda de Caires traduziu ainda uma peça de teatro e escreveu o texto da ópera Vagamundo, musicada em épocas diferentes primeiro pelo compositor e maestro Rui Coelho e mais tarde por Júlia Oceana Pereira. (…)
O Governo português agraciou-a com as Ordens de Benemerência, pela sua dedicação às crianças e com a de Santiago da Espada. Faleceu em 1935. Em 1937, foi dado o seu nome a uma rua de Vila Real de Santo António e, em 1966, foi descerrado um busto, numa praça da cidade, numa cerimónia que teve bastante eco nos jornais locais e do resto do país. (…)