terça-feira, dezembro 17, 2019

DEZEMBRO - BOAS FESTAS

A equipa da Biblioteca Escolar e a UEE - Unidade de Ensino Especial desejam a toda a Comunidade Educativa umas Boas Festas, um Feliz Natal e um Afortunado Ano Novo .


  NATAL CHIQUE

  Percorro o dia, que esmorece
  Nas ruas cheias de rumor;
  Minha alma vã desaparece
  Na muita pressa e pouco amor.
  Hoje é Natal. Comprei um anjo,
  Dos que anunciam no jornal;
  Mas houve um etéreo desarranjo
  E o efeito em casa saiu mal.
  Valeu-me um príncipe esfarrapado
  A quem dão coroas no meio disto,
  Um moço doente, desanimado…
  Só esse pobre me pareceu Cristo.
                            
Vitorino Nemésio

Pinheirinhos de Natal e Bonecos de Neve da UEE.


Natal, e não Dezembro

  Entremos, apressados, friorentos,
  numa gruta, no bojo de um navio,
  num presépio, num prédio, num presídio
  no prédio que amanhã for demolido...
  Entremos, inseguros, mas entremos.
  Entremos e depressa, em qualquer sítio,

  porque esta noite chama-se Dezembro,
  porque sofremos, porque temos frio.


  Entremos, dois a dois: somos duzentos,
  duzentos mil, doze milhões de nada.
  Procuremos o rastro de uma casa,

  a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
  Entremos, despojados, mas entremos.
  De mãos dadas talvez o fogo nasça,
  talvez seja Natal e não Dezembro,
  talvez universal a consoada.
            David Mourão-Ferreira
          Inverno: Brincadeiras na Neve da UEE.
EU QUERIA SER PAI NATAL

  Eu queria ser Pai Natal
  E ter carro com renas
  Para pousar nos telhados
  Mesmo ao pé das antenas.
  Descia com o meu saco
  Ao longo da chaminé,
  Carregado de brinquedos
  E roupas, pé ante pé.
  Em cada casa trocava
  Um sonho por um presente
  Que profissão mais bonita
  Fazer a gente contente!
                   
Luísa Ducla Soares

DIA DE NATAL

Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.
É dia de pensar nos outros – coitadinhos – nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor anuncia o melhor dos detergentes.


De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?)
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)
Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente acotovela, se multiplica em gestos esfuziante,
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses  enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
E como se tudo aquilo nos dissesse diretamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.

A oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra – louvado seja o Senhor! – o que nunca tinha pensado comprar.

Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.
Cada menino abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora já está desperta.
De manhãzinha
salta da cama,
corre à cozinha em pijama.

Ah!!!!!!!

Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.

Jesus, o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho do Pedrinho
uma metralhadora.

Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam que caíam
crivados de balas.

Dia de Confraternização Universal,
dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.
                               
António Gedeão

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