No primeiro dia da Semana da Leitura - 2017 (27 de março) aconteceu na Biblioteca da Escola Secundária de Vila Real de Santo António, um ENCONTRO COM O ILUSTRADOR JHION (JOÃO AMARAL).
A apresentação da BD "Cinzas da Revolta", editada em 2012, contou com a presença interessada dos alunos das Turmas de Artes 11.º D , acompanhados pela professora Fernanda Pereira e 12.º D, acompanhados pelo professor Lino Neves e, ainda, pelos alunos das turmas do 7.º B, do 7.º C, do 11.º ano 111, do 10.º ano 104, 105 e 106, do 11.º H, acompanhados pelos professores António Gomes, Cátia Azevedo, Paulo Silva, Fernanda Garcia, Lénia Gonçalves e Maria Augusta Azevedo, respetivamente.
O ilustrador João Amaral, nascido em Lisboa, em 1966, participou nas Seleções BD – 2ª Série, com dois episódios de "O Que Há de Novo no Império?", publicou nesta revista "O Fim da Linha", um remake do filme "O Comboio Apitou Três Vezes"; obteve uma menção na categoria de Novos Valores, no Festival da Sobreda, em
2002, para o qual apresentou uma história, intitulada "Game Over"; participou, em 2003, no
álbum "Vasco Granja – Uma Vida, 1000 Imagens"; foi desenhador de publicidade, colaborou
com a revista "A Rua Sésamo", fez a adaptação para BD da "Viagem do Elefante", de José Saramago, foi-lhe atribuído um Prémio de Carreira pela cidade de Viseu e participou na elaboração de um álbum, a sair em breve, para comemorar os 100 anos do Museu Grão Vasco, fez ilustrações para livros.
No seu blogue publica, como Joca, uma tira
humorística, intitulada Fred. & Companhia.
"Cinzas da Revolta é uma história dos anos 60 que só pôde ser concretizada agora graças à Internet", palavras do ilustrador que continuou dizendo, em tom de brincadeira, que o argumentista, Miguel Peres, produtor e realizador de vídeo na EDP, porque tinha que trabalhar e nem todos podiam "andar a passear" como ele, não podia estar presente.
Os autores de duas gerações (Miguel 26 anos e João 50 anos) encontraram-se para dar corpo a uma história de ficção científica, situada na Guerra Colonial Angolana, em que uma rapariga é feita refém pela UPA (União dos Povos de Angola), grupo de guerrilheiros que tomaram de assalto várias fazendas no Norte de Angola de forma muito violenta.
Nesta ocupação, os pais da rapariga são mortos, por um guerrilheiro que não teve a coragem para a matar e logo se estabelece uma relação estranha desta com o homem que, à sua frente, lhe matou o pai.
À luz da psicologia esta situação é explicada pelo Síndrome de Estocolmo ou síndroma de Estocolomo, o nome normalmente dado a um estado psicológico particular em que uma pessoa, submetida a um tempo prolongado de intimidação, passa a ter simpatia e até mesmo sentimento de amor ou amizade perante o seu agressor.
A parte humana da Guerra Colonial é o mote central desta obra que o argumentista quis colocar em destaque. O trabalho da equipa permitiu que as experiências dos autores de texto e de ilustração enriquecessem o produto final , graças às achegas que mutuamente forneceram nas áreas de trabalho de cada um.
Jhion explicou o processo de construção da BD e indicou as técnicas utilizadas.
Fez referência à dimensão da passagem do tempo e à necessidade de pensar as personagens impostas.
O esboço dos traços das personagens é essencial, assim como a idealização destas ao longo de vários anos, neste trabalho de proximidade e convívio, de vários meses, entre o ilustrador e a personagem.
Jhion fez uma referência ao argumento do cinema para falar do argumento da BD, devido à sua proximidade.
Informou que o argumentista narra a história descrita pelas ilustrações através dos balões de diálogo e caixas narrativas. As características das personagens foram transmitidas pelo autor de texto e o número de vinhetas por página foi indicado por aquele.
Começou o trabalho de criação pelo ilustrador que elaborou os primeiros esboços das personagens com lápis azul para apresentação ao argumentista. Depois de chegarem a consenso, digitalizou para o computador os desenhos, passou-os para folha de papel vegetal e aplicou a tinta da china, nas páginas digitalizadas aplicou as cores por camadas e, por fim, nos balões de diálogo e caixas narrativas, o texto foi colocado.
O projeto de capa foi muito discutido e envolveu os autores e a editora pois é o 1.º produto vendável da obra. O primeiro projeto de capa foi considerado, pelo autor do texto, muito convencional.
Filipe Melo (autor da coleção "Vampiros"), amigo do ilustrador, deu-lhe a ideia de fazer uma capa que sugeri-se um caderno encontrado na selva, com vestígios de sangue e aspeto enlameado.
Sugeriu-lhe uma letra simples semelhante à que era usada nos anos 50, tipo o letring do filme "A Mulher Que Viveu Duas Vezes" de Hitchcock.
A ideia surgiu-lhe: Um braço de uma rapariga a agarrar uma espingarda.
A finalizar a sessão, João Amaral revelou aos alunos que nesta prancha (página de BD) estão presentes todas as fazes do processo de ilustração que havia explicado:
- esboço a lápis;
- trabalho a tinta da china;
- cor chapão (aplicação das cores lisas);
- a cor final
- os balões de texto
A imagem mostra o navio de transporte de tropas do continente para Angola e o célebre discurso de Salazar aos microfones da RTP.
A credibilidade é dada à fição pelos factos históricos.
Na última página do livro, elaborada de forma mais convencional, o ilustrador com mais liberdade criativa, pintou na aguarela os helicópteros da época a sobrevoar Angola. Uma homenagem pessoal do autor dos desenhos ao filme "Apocalypse Now", de Francis Ford Coppola, quando os helicópteros espalham os na-palmes pela manhã. Aqui, espalham as cinzas pelo ar, a única indicação fornecida pelo argumentista.
Se tens curiosidade vai ver.
O livro encontra-se em lugar de destaque na tua biblioteca.
Para os amantes de Banda Desenhada aqui fica o blogue do Jhion:
joaoamaralbloguespot
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