Este é o Blogue das Bibliotecas do Agrupamento da Escolas de Vila Real de Santo António. Nestas páginas podes ler e-books, ouvir histórias, declamações e canções de autores de língua portuguesa, fazer pesquisas, ter acesso a tutoriais e recursos de apoio ao ensino. Estamos a trabalhar para disponibilizar o maior número de recursos possíveis. Fica atento às novidades.
sexta-feira, outubro 23, 2009
Para os mais velhos
«Hoje está aqui sintetizado o que somos, vivemos e dizemos há mais de 40 anos, cada um à sua maneira. Contem com com isto de nós. Que cantemos, sempre», disse a certa altura do primeiro concerto dos Três Cantos, José Mário Branco. Uma frase à laia de introdução que chegou já quando o Campo Pequeno estava completamente rendido ao espectáculo que Branco, os seus amigos e companheiros na música para abanar consciências e estremecer corações, Sérgio Godinho e Fausto Bordalo Dias, e os 20 músicos que os acompanharam esta noite, prepararam com tanto cuidado e delicadeza. Talvez porque por essa altura já tivessem ecoado pela sala lisboeta 'Guerra e Paz' de Godinho logo a abrir, ou 'Travessia do Deserto' de Zé Mário Branco, e também 'Como Um Sonho Acordado' de Fausto.
É que com tanta história para cantar só podia dar uma noite histórica, a primeira de quatro entre Lisboa e Porto. E cedo se percebeu que as vozes dos três nomes-mor desse cancioneiro que todos temos na ponta da língua, não só estavam em harmonia musicalmente como eram os Três Cantos de um triângulo perfeito, composto pela emotividade e a jovialidade de Zé Mário Branco, a imprevisibilidade e a força de Sérgio Godinho e a candura iluminada pela ironia de Fausto. Num alinhamento que evocou álbuns indispensáveis do património musical português, tais como "Ser Solidário", "Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades", ambos de Zé Mário Branco, "Por Este Rio Acima" de Fausto ou "Os Sobreviventes" de Godinho, não faltaram lágrimas nos olhos dos assistentes mais emotivos, homens e mulheres que cresceram ao som de canções como 'Inquietação', 'O Velho Samurai', 'Se Tu Fores Ver o Mar (Rosalinda)' e 'Quatro Quadras Soltas' - numa versão cheia de energia com o protagonismo dos sopros. Ou que se emocionaram com os poemas de 'Barca dos Amantes' ou 'Não Canto Porque Sonho' (poema de Eugénio de Andrade musicado por Fausto) e que sonharam ao som de 'Que Força é Essa', 'Maré Alta' e 'Não Saber o que Se Espera', tema de Zeca Afonso, aqui recuperado pelos seus três amigos.
A maior parte dos temas são cantados a três vozes pelas estrelas da noite, mas há também espaço para momentos a solo, como o de Zé Mario Branco que chama a palco José Peixoto e Carlos Bica para interpretar em tom de jazz 'Onofre', e o de Sérgio Godinho, para o arrepiante coro geral em 'O Primeiro Dia'. Já Fausto optou por evocar em exclusivo o disco já deste século, "A Ópera Mágica do Cantor Maldito", com destaque para o entusiasmo colectivo no refrão de 'A Nova Brigada dos Coronéis de Lápis Azul'. E como o prometido é devido, ouviu-se na sala lisboeta um inédito da autoria de Godinho e Branco, chamado 'Faz Parte (Ou o Retorno das Audácias)'.
No final, e perante uma prova de amor do público que é correspondida com dois encores, alguém sobe a palco para entregar três cravos, aos Três Cantos. «A liberdade passa por aqui» canta Godinho no encore. Esta noite também passou pelo Campo Pequeno e gostou tanto que ficou lá, bem sentada na beira do palco.
Rita Tristany (jornalista da Radio Cotonete e ex-aluna da nossa escola)
Fotos: Nuno Fontinha
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